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Paulo Pedrosa (Biólogo)

Paulo Pedrosa (Biólogo)

RESUMINDO

 

1. O biólogo Paulo Pedrosa explica que, após o SEGUNDO mês de gravidez, a genitália pode ficar hermafrodita. 

[...] os hormônios sexuais são fundamentais para a GESTAÇÃO; são eles que determinam a formação da GENITÁLIA do rebento. Até os primeiros DOIS MESES de gravidez, a GENITÁLIA não está formada, sendo um órgão híbrido que pode se transformar tanto em órgão sexual masculino quanto em feminino. (PEDROSA; LOPES, 2019, p. 141)

2. Paulo pedrosa continua: 

Se o embrião tiver um cromossomo Y, esse cromossomo manda ordens para que testostenona seja produzida, a fim de que, a partir dessa pré-gônada, sejam formados um pênis e dois testículos. Se não houver nenhum cromossomo Y no feto, mas um cromossomo X extra, a testosterona não é produzida, e então a ordem é transformar essa pré-gônada em uma vagina e dois ovários. (PEDROSA; LOPES, 2019, p. 141)

3. E continua: 

Eventuais erros nessa etapa podem gerar indivíduos com o que é chamado de genitália INTERSEXO (antigamente denominados HERMAFRODITAS). Em síndromes raras, como a de TURNER, que ocorrem quando o indivíduo tem apenas um cromossomo sexual (X), a GENITÁLIA fica feminina, ainda que NÃO plenamente formada. Já na síndrome de KLINEFELTER, em que o indivíduo possui três cromossomos sexuais, sendo XXY, a presença do Y faz com que a GENITÁLIA fique masculina, ainda que a presença do X extra gere algumas inconformidades gerais (como poucos pelos, crescimento de seios e musculatura menos desenvolvida). (PEDROSA; LOPES, 2019, p. 141)

4. O biólogo Paulo Pedrosa explica que, APÓS as genitálias serem formadas, existem HIPÓTESES que mostram que é na SEGUNDA metade da gravidez que podem ocorrer variações na configuração sexual cerebral, dando origem à homossexualidade e à transexualidade (PEDROSA; LOPES, 2019, p. 142)

5. Simplificando, a diferença é que, na homossexualidade, a pessoa se identifica com sua genitália, porém sentindo atração pelo mesmo sexo, enquanto que, na transexualidade, a pessoa NÃO se identifica com sua genitália, podendo ter atração pelo mesmo sexo ou pelo sexo oposto (PEDROSA; LOPES, 2019, p. 142)

"[...] depois que a presença ou a ausência de testosterona (ou estrógeno) forma a GENITÁLIA do feto, o trabalho ainda NÃO está concluído: é necessário “instalar” o software no cérebro" (PEDROSA; LOPES, 2019, p. 141)

6. Paulo Pedrosa continua: 

"Porém, a instalação desse software só começa MESES DEPOIS, na SEGUNDA METADE da gravidez. Portanto, a formação da GENITÁLIA e a conformidade cerebral de GÊNERO e ORIENTAÇÃO SEXUAL são processos separados por muito tempo dentro do ciclo gestacional. É nesse segundo período que pode aparecer alguma informação que inverta o processo, ou seja, que faça o cérebro de um menino se interessar por outros meninos (e o de uma menina se sentir atraída por outras meninas) ou mesmo que faça a pessoa se identificar como pertencente ao GÊNERO OPOSTO ao que indica sua GENITÁLIA (a transexualidade)" (PEDROSA; LOPES, 2019, p. 142)

 

CONCLUSÃO

7. Observe que, o biólogo Paulo Pedrosa diz que, independente de a homossexualidade ser algo GENÉTICO ou hereditário, mesmo assim, existem indícios que mostram que a homossexualidade possui elementos INATOS, ou seja, de nascença (PAULO; PEDROSA, 2019, p. 142)Paulo Pedrosa diz: 

"[...] a explicação NÃO precisa ser GENÉTICA: já abordamos aqui elementos GESTACIONAIS que dariam conta do recado, que tornariam a homossexualidade INATA, porém NÃO hereditária" [...] (PAULO; PEDROSA, 2019, p. 144).

8. O biólogo Paulo Pedrosa conclui, dizendo:

"O que podemos CONCLUIR dos estudos existentes ATÉ HOJE é que a HOMOSSEXUALIDADE é comprovadamente um fenômeno natural, presente em diversas espécies de animais sociais. Ao que tudo INDICA, sua CAUSA é uma mistura de fatores genéticos, epigenéticos, hormonais (na gestação) e ambientais (principalmente em bissexuais) que geram alterações observáveis tanto anatomicamente (no cérebro) quanto no comportamento sexual." (PEDROSA; LOPES, 2019, p. 155)

 

 

 

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CRÉDITOS: Todos os textos a seguir são provenientes de textos do biólogo Paulo Pedrosa, tirados do Livro "Darwin Sem Frescura". Portanto, todos os créditos são do biólogo Paulo Pedrosa.   

 

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(página 126) A homossexualidade aparece em todas as culturas e sociedades humanas, presentes e pretéritas (até onde podemos averiguar), em uma curiosa proporção que sempre oscila entre 4% e 10% da população. Ou seja, há uma quantidade mais ou menos fixa de pessoas na humanidade que PREFEREM se relacionar com outras do mesmo sexo. Neste capítulo, tentaremos mostrar ao leitor que PREFERÊNCIA – ao contrário do que muitos pensam – NÃO é uma ESCOLHA do indivíduo [...]

 

[...] (página 127,128) Para começar, recordemos que homossexuais NÃO são estéreis. Ainda que a chance de se reproduzir seja reduzida – afinal, relacionam-se menos com o sexo oposto -, NADA impede que tenham relações heterossexuais EVENTUAIS. Aliás, é isso que acaba acontecendo com a maioria dos homossexuais; não há um rótulo na cabeça deles impedindo-os de se INTERESSAR pelo sexo oposto. Eles APENAS PREFEREM, em maior ou menor grau, se relacionar com pessoas do mesmo sexo (sexual ou afetivamente). E sim, O MESMO vale para pessoas heterossexuais (ainda que poucas admitam isso). Em vez de enxergar a ORIENTAÇÃO SEXUAL como um interruptor, com apenas duas fases (ou homo ou hétero), é melhor enxerga-la como uma RÉGUA GRADUADA, com uma série de posições INTERMEDIÁRIAS entre dois extremos, na qual os extremos puros são, na verdade, raros (já dizia ALFRED KINSEY, pioneiro dos estudos científicos sobre a sexualidade humana nos anos 1940 e 1950). Apenas por esse fato, já seria possível responder ao questionamento do primeiro parágrafo. O.k., KINSEY provavelmente EXAGEROU ao sugerir que heterossexuais estritos sejam TÃO RAROS quanto homossexuais estritos, mas isso não vem ao caso aqui. [...]

 

[...] (página 133) Agora vamos a algumas características objetivas observadas em homossexuais ao redor do mundo. Aqui vale uma ressalva importante: não abordaremos, neste capítulo, a TRANSEXUALIDADE. Não porque não seja um tema relevante – inclusive, na verdade, há estatísticas que mostram uma alta probabilidade de ambos os fenômenos ocorrerem ao mesmo tempo numa pessoa devido a mecanismos INTRAUTERINOS parecidos (discutiremos isso mais adiante). Não trataremos disso agora porque o tema envolve uma gama enorme de explicações paralelas que tornariam o capítulo absurdamente confuso e longo. Seria necessário um outro capítulo apenas para isso; portanto, deixemos esse papo para um possível próximo volume. Vamos nos ater aqui à ORIENTAÇÃO SEXUAL, ou seja, com qual dos sexos as pessoas PREFEREM se relacionar (lembrando que preferência NÃO é escolha), e a suas características gerais.

 

 

DANDO PINTA

(Páginas 133,134)

Muitas pessoas dizem ser capazes de identificar um gay ou uma lésbica apenas pelos TREJEITOS ou pequenos sinais CORPÓREOS (muitos gays, inclusive, dizem isso), e essa é uma habilidade apregoada com certo orgulho por aqueles que afirmam possuí-la. Se fulaninho “dá pinta”, só pode ser gay, assumido ou enrustido. De fato, há estudos científicos indicando que é possível, sim, identificar traços que indiquem homossexualidade em pessoas, tanto na voz quanto nos trejeitos de rosto e corpo. Porém, não de forma 100% acurada, como tudo em biologia. Alguns homossexuais NÃO “dão pinta”, enquanto alguns heterossexuais “dão pinta” e não são gays. Mas, em linhas gerais, há uma curva gaussiana (aquelas curvas de gráfico com formato de sino, em que a parte mais alta indica a maioria) indicando que homossexuais apresentam, sim, trejeitos identificáveis na maioria dos casos. Isso poderia ser uma característica cultural? (Afinal, o meio gay acabaria por “contaminar” as pessoas com estereótipos que elas incorporariam por identificação). Até poderia, mas tudo indica que essa explicação NÃO faz muito sentido. Isso porque foram realizados estudos internacionais aplicando os mesmos testes em várias culturas e continentes diferentes (Américas do Norte e do Sul, Oceania, Europa e Ásia) e os traços de FEMINILIDADE ou MASCULINIDADE que distinguem os homossexuais foram observados com mínimas diferenças em todos os países estudados. É claro que mais estudos precisam ser feitos para comparar os resultados com os de os de outras sociedades, mais fechadas e menos expostas à cultura de origem europeia, mas as pesquisas já existentes dão uma boa ideia do que vamos discutir neste capítulo.

(Páginas 134, 135) Esses traços – tanto de voz quanto de expressão corporal – que podem ajudar a identificar uma boa porcentagem de homossexuais são observados também (prenda a respiração e tente ler o parágrafo até o final antes de fechar o livro e jogá-lo fora)... em crianças. Sim, sabemos que é QUASE IMPOSSÍVEL falar sobre sexualidade de crianças, porque, por definição, crianças não possuem nenhuma libido ou interesse sexual. Toda e qualquer tentativa de SEXUALIZAÇÃO DE CRIANÇAS de que temos notícia gera TRAUMAS e comportamentos ANÔMALOS decorrentes desses TRAUMAS. Porém, mesmo antes de os hormônios responsáveis pela libido aflorarem, esses traços “acessórios”, por assim dizer, de ORIENTAÇÃO SEXUAL podem ser detectados. Igualmente em uma porcentagem bem alta (88% em alguns estudos), esses traços acabam por corresponder às PREFERÊNCIAS sexuais que os indivíduos terão depois da puberdade (e bissexuais ficam em um meio-termo, metade correspondendo, metade não). Essas crianças são chamadas de pré-homossexuais (existe, portanto, o termo pré-heterossexual também) na literatura acadêmica, pois não é possível classificar esses traços que indicam uma probabilidade alta (que nunca é de 100%, vale sempre lembrar) de que serão homossexuais. Um fato interessante é que, EM MENINAS, essa detecção é MENOS acurada do que em meninos, ou seja, um MENOR número de meninas com comportamento pré-homossexual vai efetivamente ser lésbica na vida adulta. Mas, mesmo assim, o percentual TAMBÉM É ALTO.

Em resumo, há características objetivas de voz e linguagem corporal que podem ser observadas na maioria dos homossexuais homens ou mulheres, que se repetem em diferentes culturas e modelos de sociedade e que são detectáveis pela maioria das pessoas, sejam homossexuais ou não. Guardem bem essa frase.

 

É COISA DA SUA CABEÇA

(Páginas 135,136,137)

Em 1990, dois pesquisadores do Instituto de Pesquisas Cerebrais da Holanda constataram que homossexuais possuem uma região do HIPOTÁLAMO (uma área central do nosso cérebro) quase duas vezes maior que a de heterossexuais (o experimento foi feito apenas em homens já falecidos, cujos cérebros foram cortados e medidos). Seguindo a mesma pegada, em 1991, SIMON LEVAY, um pesquisador britânico que trabalhava em San Diego, nos Estados unidos, chegou a resultados parecidos, dessa vez incluindo MULHERES heterossexuais na amostragem. LEVAY concluiu não só que essa área do HIPOTÁLAMO tinha tamanho diferente em homens gays e hétero, mas também que ela possuía tamanho similar em homens gays e mulheres hétero, mais um INDÍCIO de que essa diferença de tamanho poderia estar relacionada à ORIENTAÇÃO SEXUAL, uma vez que essa área do cérebro está vinculada a funções reprodutivas. Em 1992, um NOVO ESTUDO foi feito por dois pesquisadores da Califórnia, que, analisando o cérebro de mais de NOVENTA cadáveres, concluíram que havia diferença de tamanho em uma outra área quando compararam homens gays, homens hétero e mulheres hétero. Essa área, chamada de COMISSURA ANTERIOR, liga os dois hemisférios cerebrais e não está vinculada (pelo menos até onde se sabe) a nenhuma função reprodutiva ou sexual, ainda que esteja bastante próxima daquela área do hipotálamo analisada nos artigos anteriores. Esses achados poderiam indicar que o cérebro de homens gays (até então, nada de lésbicas) teria diferenças essenciais não apenas em áreas vinculadas à ORIENTAÇÃO SEXUAL, mas também em áreas relacionadas a outras funções, sendo um INDÍCIO de que um gay poderia ser caracterizado por mais coisas ALÉM da “mera” ORIENTAÇÃO SEXUAL.

Observações desse tipo foram retomadas anos depois com o advento da RESSONÂNCIA MAGNÉTICA funcional, que permite observar as áreas do cérebro que são ativadas em uma pessoa acordada mediante certos estímulos (visuais, auditivos, OLFATIVOS etc). Esses estudos foram mostrando cada vez mais similaridades ENTRE mulheres heterossexuais e homens gays e ENTRE homens hétero e mulheres homossexuais (finalmente incluíram lésbicas nos estudos). Ou seja, certas áreas do cérebro respondiam a FEROMÔNIOS (ODORES que funcionam como SINALIZADORES) e/ou estímulos visuais de acordo com a PREFERÊNCIA SEXUAL da pessoa, e não com seu sexo biológico. Pessoas que se sentiam atraídas por homens (fossem homens ou mulheres) tinham respostas cerebrais semelhantes ao ser excitadas visual ou OLFATIVAMENTE, o mesmo valendo para pessoas que se sentiam atraídas por mulheres. Algumas dessas diferenças de ativação e fluxo sanguíneo cerebral se davam em áreas não vinculadas à reprodução ou à sexualidade, mostrando mais uma evidência de que o que caracteriza homossexuais vai muito além de sua ORIENTAÇÃO SEXUAL. Bissexuais foram testados em poucos estudos, mas mostraram em meio-termo entre homo e heterossexuais.

É óbvio que esses estudos com RESSONÂNCIA MAGNÉTICA funcional isoladamente NÃO têm a capacidade de identificar se determinado comportamento é INATO. [...]

 

[...] (Páginas 139,140) O fato de as diferenças cerebrais observadas entre homos e héteros estarem exatamente nessas partes anatômicas é um indício chocante de que a ORIENTAÇÃO SEXUAL passa longe de áreas responsáveis por ESCOLHAS ou MORALIDADE. Ao contrário, está em uma área vinculada ao comportamento INSTINTIVO. Mas como testar essa hipótese? Ora, se a ORIENTAÇÃO SEXUAL é mais INSTINTIVA do que aprendida/construída, então essas variações do padrão heterossexual deveriam ser observadas em outras espécies também, certo? É isso o que veremos em breve.

Antes de finalizar esta parte, haverá aquele leitor mais antenado que se lembrará de que, em 2016, foi noticiado que um bug no software mais utilizado em estudos de RESSONÂNCIA MAGNÉTICA funcional poderia invalidar 15 anos de pesquisa na área. Sendo assim, não poderíamos confiar nesses resultados. Esse artigo foi publicado em uma revista conceituadíssima (PNA, da Academia Americana de Ciência) em junho de 2016. Em agosto desse mesmo ano, no entanto, os próprios autores publicaram uma errata, dizendo que o número de “40 mil resultados perdidos”, citado por eles anteriormente, era uma informação inverídica, e trocaram no texto as menções a quantidades por pronomes indefinidos, como “muitos” e “numerosos”. A correção se deveu ao fato de vários cientistas terem apontado que esse número era superestimado, podendo o número real ser inclusive algo na casa dos 3.500. Ainda que o erro exista e seja preocupante, talvez não seja algo tão alarmante nem tenha prejudicado tantas pesquisas assim. Além disso, essas pesquisas sobre diferenças cerebrais entre homos e héteros NÃO recorrem APENAS à RESSONÂNCIA magnética, mas também a outras técnicas, como TOMOGRAFIAS por emissão de pósitrons (PET) e MAGNETOENCEFALOGRAFIAS (MEG), em cujos softwares NÃO há nenhum bug identificado até o momento.

 

HORMÔNIOS, SEMPRE OS HORMÔNIOS

(Páginas 140,141,142)

 

Dizer que a ORIENTAÇÃO SEXUAL pode ser influenciada por hormônios levanta alguns fantasmas de um passado bastante recente que certos países preferem esquecer. Algumas décadas atrás, QUANDO a homossexualidade ainda era considerada uma doença passível de tratamento e, em muitos países, um crime sujeito à prisão, doses de hormônios eram dadas a esses “criminosos” para que eles “voltassem ao normal” e parassem com seus “nefastos de sodomia”.

A Inglaterra, na década de 1950, ainda oferecia esses tratamentos para “curar” o “crime” de ser homossexual, e entre as vítimas desse tipo de procedimento estava ALAN TURING, o inventor do computador (até hoje, nossos computadores, sejam desktops, laptops ou celulares, usam basicamente o mesmo princípio desenvolvido por TURING). Há também o caso do irã, onde a homossexualidade é ilegal, mas a TRANSEXUALIDADE é considerada uma doença, e a cirurgia de redesignação sexual, bem como tratamentos hormonais, podem ser pleiteados ao Estado, o que leva alguns gays a se declararem TRANSEXUAIS perante a justiça a fim de evitar a morte. Muitos se suicidam depois do processo (ótimo exemplo para demonstrar que, apesar de próximos, os fenômenos de homossexualidade e transexualidade NÃO são a mesma coisa).

Nem é preciso dizer que o tratamento hormonal é absurdamente agressivo para o ser humano, mesmo que sejam doses do mesmo hormônio que o indivíduo já produz naturalmente. Afinal, todo mundo que faz ingestão de hormônios hoje precisa fazê-lo aos pouquinhos, com acompanhamento médico e muito cuidado, como no caso dos halterofilistas, de algumas mulheres na menopausa e alguns transexuais.

(Página 141,142) Em uma realidade dessas, como alguém pode ter coragem de dizer que hormônios têm a ver com essa coisa toda? Pois bem, eles têm muito, mas não depois que o indivíduo já está adulto e bem formado, nem mesmo na puberdade, quando sabidamente os hormônios afloram. Hormônios influenciam bem antes, quando ainda estamos vivendo confortavelmente no útero; aliás, antes até de termos consciência de estar vivendo. Explicamos: os hormônios sexuais são fundamentais para a GESTAÇÃO; são eles que determinam a formação da GENITÁLIA do rebento. Até os primeiros DOIS MESES de gravidez, a GENITÁLIA não está formada, sendo um órgão híbrido que pode se transformar tanto em órgão sexual masculino quanto em feminino. Se o embrião tiver um cromossomo Y, esse cromossomo manda ordens para que testostenona seja produzida, a fim de que, a partir dessa pré-gônada, sejam formados um pênis e dois testículos. Se não houver nenhum cromossomo Y no feto, mas um cromossomo X extra, a testosterona não é produzida, e então a ordem é transformar essa pré-gônada em uma vagina e dois ovários. Eventuais erros nessa etapa podem gerar indivíduos com o que é chamado de genitália INTERSEXO (antigamente denominados HERMAFRODITAS). Em síndromes raras, como a de TURNER, que ocorrem quando o indivíduo tem apenas um cromossomo sexual (X), a GENITÁLIA fica feminina, ainda que NÃO plenamente formada. Já na síndrome de KLINEFELTER, em que o indivíduo possui três cromossomos sexuais, sendo XXY, a presença do Y faz com que a GENITÁLIA fique masculina, ainda que a presença do X extra gere algumas inconformidades gerais (como poucos pelos, crescimento de seios e musculatura menos desenvolvida).

Contudo, depois que a presença ou a ausência de testosterona (ou estrógeno) forma a GENITÁLIA do feto, o trabalho ainda NÃO está concluído: é necessário “instalar” o software no cérebro do humaninho em formação para que ele possa ter a oportunidade de usar esse aparato para se reproduzir quando a hora chegar (sim, falando em termos evolutivos, é cru desse jeito mesmo). Porém, a instalação desse software só começa MESES DEPOIS, na SEGUNDA METADE da gravidez. Portanto, a formação da GENITÁLIA e a conformidade cerebral de GÊNERO e ORIENTAÇÃO SEXUAL são processos separados por muito tempo dentro do ciclo gestacional. É nesse segundo período que pode aparecer alguma informação que inverta o processo, ou seja, que faça o cérebro de um menino se interessar por outros meninos (e o de uma menina se sentir atraída por outras meninas) ou mesmo que faça a pessoa se identificar como pertencente ao GÊNERO OPOSTO ao que indica sua GENITÁLIA (a transexualidade). Mas o que pode gerar esse tipo de inconformidade no caso dos homossexuais?

(Página 142) Sabe-se que ORIENTAÇÃO SEXUAL (homo ou hétero) ou IDENTIDADE DE GÊNERO (trans ou cis) ocorrem naturalmente devido, em princípio, a doses hormonais na SEGUNDA METADE da gestação. Inclusive, o mesmo fato foi observado em experimentos com ratos de laboratório, nos quais alterações hormonais induzidas durante a SEGUNDA METADE da gestação geraram indivíduos com comportamento reprodutivo bissexual. Efeitos semelhantes foram observados também em porquinhos-da-Índia e macacos resos. Essa é a parte mais tensa dessa área de estudos, porque envolve várias HIPÓTESES e poucas certezas. Ainda que fatores posteriores ao nascimento possam gerar algumas alterações, a base da ORIENTAÇÃO SEXUAL ou da IDENTIDADE DE GÊNERO é colocada nessa etapa (quanto a isso não adianta espernear; aceita que dói menos, miga). Mas a explicação para esse fato gera controvérsias. [...]

 

[...] (Página 144,145,146) Bem, de fato a explicação NÃO precisa ser genética: já abordamos aqui elementos gestacionais que dariam conta do recado, que tornariam a homossexualidade INATA, porém NÃO hereditária (além de se encaixarem perfeitamente na argumentação da frase que iniciou o parágrafo). Porém, a ciência não trabalha com o que é “suficiente”, ela investiga a realidade e tenta descobrir o que há para se descobrir. E o que sabemos sobre a QUESTÃO GENÉTICA nesse assunto?

Uma coisa que já é pesquisada há décadas é a AMOSTRAGEM com GÊMEOS. Simplificando, podemos dizer que, se você é homossexual e possui um irmão ou irmã gêmeo idêntico (monozigótico) há cerca de 52% (68% em alguns estudos) de chance de ele ou ela ser homossexual também. Da mesma forma, se você é homossexual e tem um irmão ou irmã gêmeo não idêntico (dizigótico), há uma chance menor, porém ainda relevante, de ele ou ela ser homossexual também (em torno de 22% em alguns estudos). Já se você é homossexual e tem irmãos NÃO gêmeos, a chance de eles serem igualmente homossexuais é em torno de 10%, uma porcentagem surpreendentemente parecida com a obtida entre irmãos adotivos. É óbvio que essas porcentagens variam dependendo da amostragem do estudo e de como a sexualidade é avaliada (e inclusive se a bissexualidade é incluída). Um dos exemplos dessas variações é que mulheres têm uma tendência maior a apresentar graus de bissexualidade em vez de serem homossexuais estritas, enquanto homens estatisticamente demonstram ser mais “preto no branco” (ou homo, ou hétero). Esse último aspecto pode, naturalmente, ser reflexo de algo mais social que biológico. Mas espere aí. Por que apenas o último aspecto pode ser social e os demais não? Afinal, se filhos são criados pelos mesmos pais, seria de se imaginar que a tendência de um deles ser homo ou heterossexual seja próxima da dos irmãos e irmãs. Pois é, caro leitor, amis ou menos. Mais ou menos.

Se os fatores meramente sociais, essa diferença entre gêmeos monozigóticos e dizigóticos NÃO seria tão gritante. Mas tudo bem, é comum que mamães e papais orgulhosos de terem um filho “Ctrl C + Ctrl V” do outro vistam os dois exatamente da mesma forma e façam tudo igualzinho com eles, o que poderia aumentar as chances de eles serem parecidos inclusive na ORIENTAÇÃO SEXUAL. O ideal seria que fossem feitos estudos em GÊMEOS MONOZIGÓTICOS separados no nascimento. O problema é justamente esse que o leitor está imaginando: onde raios os pesquisadores vão encontrar um número significativo de GÊMEOS MONOZIGÓTICOS criados separadamente? Salvo raríssimas exceções, quando crianças são separadas no nascimento, geralmente não voltam a se encontrar na fase adulta. Mas há alguns dados, coletados pela pesquisadora americana NANCY SEGAL durante vinte anos no chamado “Landmark Minnesota Twin Study”, em que ela acompanhou mais de 130 pares de gêmeos, idênticos ou não, crescidos e criados separadamente, e concluiu que há muitos traços de personalidade compartilhados, além de QI e até religiosidade e orientação política. E, óbvio, ORIENTAÇÃO SEXUAL. Ou seja, eliminando a variável AMBIENTE, o índice de coincidência continua alta, ainda que – como tudo o que envolve biologia – não seja 100%. E os dados existentes NÃO se limitam aos gêmeos. Além de irmãos, já foram pesquisadas famílias inteiras para se averiguar a quantidade de primos e tios homossexuais que uma pessoa homossexual pode ter. Um indivíduo homossexual possui uma chance de 6% a 9% de ter pelo menos um primo ou tio homossexual, com pequenas variações entre homens e mulheres. [...]

 

[...] (Página 146,147,148) Além disso, há genes que podem se expressar de forma distinta (com mais ou menos força – ou até serem silenciados) conforme a presença de determinados fatores genéticos, celulares e até ambientais. Os estudos sobre a expressão gênica e funcionamento de genes em conjunto pertencem ao ramo da EPIGENÉTICA.

Um estudo publicado em 1993 na revista especializada americana SCIENCE (nada mais, nada menos que a publicação científica mais importante do planeta, pau a pau com sua equivalente britânica, a NATURE) observou que, entre os homens homossexuais, os parentes igualmente homossexuais nunca estavam do lado paterno, mas do lado materno, sendo tios ou filhos de tias, o que levantou a hipótese de esse traço estar ligado ao cromossomo X, mais precisamente a um enorme bloco de genes chamado Xq28. Isso porque, como já é de conhecimento popular, homens possuem cromossomos sexuais X e Y, enquanto mulheres possuem duas cópias do cromossomo X. já que mulheres têm esse material genético em duplicata, a regulação gênica delas faz o trabalho de “desligar” os genes de um dos cromossomos X para que ele não se superexpresse, o que poderia ocasionar problemas. O mecanismo é tão genial que, quando há algum gene “com defeito” em uma das cópias, essa cópia costuma ser silenciada em favor da outra. [...]

 

[...] (Páginas 147,150,151,152) O cromossomo Y é outro candidato a ter algum gene que influencie na ORIENTAÇÃO SEXUAL. Sabemos que a região específica do cromossomo Y responsável pela formação dos GENITAIS MASCULINOS e pela produção de testosterona é a Yp11.3. Você pode até ter um cromossomo Y, mas se ele não apresentar essa região você não virará um homem (literalmente falando). A expressão de pseudogenes – pedaços truncados de antigos genes – adjacentes a essa região já foi proposta como uma das influências na ORIENTAÇÃO SEXUAL e testada em ratos de laboratório, com uma boa chance de ser uma EXPLICAÇÃO PLAUSÍVEL. Se for isso mesmo, significa que as homossexualidades feminina e masculina têm explicações DIVERSAS em alguns pontos, o que as estatísticas, aliás, já parecem demonstrar. Então, esse lance de que a homossexualidade é genética apenas se 100% dos irmãos gêmeos forem gays é mau entendimento de genética. (Página 151) A HIPÓTESE de a homossexualidade estar ligada ao cromossomo X pode fazer sentido para explicar as taxas relativamente baixas, mas ainda assim constantes, de prevalência em famílias. Inclusive, os cerca de 22% de coincidências de ORIENTAÇÃO HOMOSSEXUAL entre irmãos dizigóticos (gêmeos não idênticos) seriam o esperado para uma herança não dominante de cromossomo X. Porém, se a explicação fosse tão simples quanto essa, irmãos gêmeos idênticos deveriam ter 100% de correspondência, e não entre 50% e 70%.

(Páginas 151,152) Mas aí é que entram os demais aspectos. Recapitulando, o mecanismo que gera a ORIENTAÇÃO SEXUAL ocorre principalmente na SEGUNDA METADE da gestação. Ainda que gêmeos monozigóticos possuam DNA idêntico, eles ocupam lugares diferentes na barriga da mãe e podem ter diferenças gestacionais. Além disso, há, sim, fatores ambientais que influenciam, especialmente no caso daqueles indivíduos que não estão nos extremos da escala KINSEY (aquela régua graduada que mencionamos no princípio do capítulo). Por fim, existe o fenômeno da EPIGENÉTICA, que explica que um gene pode se hiperexpressar em um irmão gêmeo e até ser silenciado no outro irmão, seja na gestação, seja no pós-parto. Em resumo, basicamente a mesma coisa observada no que diz respeito a gostar ou não de brócolis. Agora aquela analogia do começo do capítulo parece fazer mais sentido, certo?

 

EVOLUÇÃO: O BENEFÍCIO DA HOMOSSEXUALIDADE

(Página 152)

Embora entre a população ainda haja briga de foice sobre opiniões pessoais acerca da homossexualidade, na COMUNIDADE CIENTÍFICA (salvo raras exceções) é ponto pacífico que ela NÃO é uma ESCOLHA do indivíduo - mesmo que ele pense que é. [...]

[...] (Página 155) O que podemos concluir dos estudos existentes até hoje é que a homossexualidade é comprovadamente um fenômeno natural, presente em diversas espécies de animais sociais. Ao que tudo indica, sua causa é uma mistura de fatores genéticos, EPIGENÉTICOS, hormonais (na gestação) e ambientais (principalmente em bissexuais) que geram alterações observáveis tanto anatomicamente (no cérebro) quanto no comportamento sexual. [...]

 

 

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